Se hoje os índices de produtividade de soja na Bahia são superiores aos dos outros estados brasileiros, foi preciso muita resiliência dos agricultores que iniciaram o cultivo da oleaginosa há mais de três décadas. Nem todos seguiram em frente.
O engenheiro agrônomo e pesquisador Luis Kasuya, que trabalha no oeste baiano há 30 anos, conta que no final da década de 1980 e início dos anos 1990, os primeiros produtores começaram a chegar na Bahia.
“Nosso solo sempre foi muito pobre e extremamente arenoso, mas tem um agravante ainda maior: a região passa por veranicos, geralmente entre janeiro e fevereiro”, conta.
Segundo ele, devido a essas condições e por ainda não existir, à época, tecnologias de mitigação, muitos produtores voltaram para trás. No entanto, com o passar do tempo, os primeiros consultores e engenheiros agrônomos chegaram na região para tecnificar a agricultura do estado.
“Esses profissionais perceberam que para suportar os veranicos e as altas temperaturas, associado com a pouca chuva registrada em alguns períodos do ano, era preciso fazer perfil de solo”.
Desta forma, começou-se a colocar em profundidade ingredientes benéficos às plantas.
“Temos áreas na Bahia cujas análises de solo mostram níveis bons de nutrientes, principalmente cálcio e boro, em até 80 cm de profundidade. Desta forma, a planta não busca somente água, mas também nutrientes fundamentais que conseguimos disponibilizar às raízes mais para baixo”, explica o engenheiro.
Crescimento de área, produção e produtividade
Nas últimas 30 safras, de 1992/93 para 2022/23, o estado atingiu os seguintes aumentos de área, produção e produtividade, conforme a Conab:
- Área: aumento de 405% (380 mil hectares para 1.919,7 milhão de hectares)
- Produção: incremento de 1.239% (590,9 mil toneladas para 7.911,1 milhões de toneladas)
- Produtividade: elevação de 165% (1.555 kg/ha para 4.121 kg/ha)
“Podemos observar que a relação área x produção x produtividade não caminha de forma diretamente proporcional. Crescemos em área a cada nova safra, assim como todo o país, mas não é um aumento tão pujante, como ocorre em alguns outros estados”, considera o gerente de Agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Aloísio Júnior.
Para ele, o produtor baiano incorporou práticas que também foram assimiladas pelos agricultores dos demais estados, que é a adoção de pacotes tecnológicos, como biotecnologia, insumos com qualidade, agricultura de precisão e técnicas conservacionistas, como o plantio direto.
Segundo o gerente, as restrições impostas pela natureza também servem como impulsionador para o crescimento da produtividade dos grãos no estado.
“Infelizmente, por questões climáticas, só podemos realizar uma safra cheia porque a maior parte de nossas áreas é em regime de sequeiro. Temos poquíssimas áreas irrigadas”.
Assim, Aloísio Júnior enfatiza que a janela climática do período chuvoso na Bahia, de novembro até meados de abril, precisa ser muito bem aproveitada.
“O produtor se agarra a essa única oportunidade que tem e se esforça ao máximo para fazer o seu dever de casa muito bem feito”, destaca.
Fonte: Redação/ Canal rural