Enquanto a ministra dos Direitos Humanos defende assistência aos familiares, o Planalto teme associação com o tráfico.
Nos últimos dias, o Rio de Janeiro foi palco da maior operação policial já realizada em seu território. Batizada de “Contenção”, a ação resultou em 121 mortes, entre elas quatro policiais.
De acordo com o governador do estado, a megaoperação foi um sucesso e eliminou diversos líderes do Comando Vermelho de várias regiões do país que estavam reunidos nos complexos da Penha e do Alemão.
Poucos dias após o episódio, o governo federal passou a discutir se deveria prestar assistência às famílias dos 117 suspeitos mortos durante a operação.
A proposta é defendida pela ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que vem articulando para que a União ofereça apoio formal às famílias das vítimas.
Ela entende que o Estado tem dever de acolher parentes de todos os mortos durante ações de segurança pública, independentemente de vínculo criminal comprovado.
O Palácio do Planalto, porém, trata o tema com cautela. Integrantes do governo avaliam que uma medida federal pode ser interpretada pela opinião pública como aproximação com o tráfico ou leniência com o crime organizado.
A preocupação aumentou após pesquisa da AtlasIntel mostrar que 8 em cada 10 moradores de favelas do Rio declararam apoio à megaoperação realizada.
O tema gera preocupação em um momento no qual a operação ainda provoca forte polarização política.
Diante desse impasse, a tendência mais provável é que o governo não avance com a proposta. Segundo fontes do Planalto, a responsabilidade por qualquer medida de reparação caberia ao governo estadual, que coordenou a operação.
Na última quinta-feira (30), Macaé Evaristo visitou o Complexo da Penha, na zona norte do Rio, para ouvir relatos de moradores sobre os desdobramentos da operação.
Durante a agenda, contrariou o Castro e classificou a ação como “um fracasso”. Ela também pediu que o governo federal acompanhe de perto as apurações sobre os mortos e desaparecidos.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também participou da visita. O encontro ocorreu em meio à pressão de movimentos de direitos humanos e entidades civis que pedem responsabilização das forças de segurança e assistência emergencial às famílias.
A megaoperação realizada na última terça-feira (28) mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e cumpriu 160 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV). O objetivo era conter o avanço da facção na zona norte da capital.
Durante a ação, houve resistência armada, explosões e até ataques com drones, que lançaram bombas contra os policiais. O saldo inicial divulgado pelo governo estadual foi de 121 mortos, entre eles quatro policiais.
De acordo com a Defensoria Pública do Rio, o número chegou a 132, com 128 civis e quatro agentes.
Moradores relataram tiroteios intensos e fuga de criminosos por rotas alternativas. Nas redes sociais, surgiram vídeos mostrando homens armados se preparando para o confronto horas antes do início da operação.
Além das mortes, a operação deixou 12 policiais baleados, quatro deles mortos, e resultou em 81 prisões. A cidade viveu um dia de paralisia: escolas suspenderam aulas, comércios fecharam e ruas ficaram vazias.
O caso ainda está sob apuração. O governo estadual e o Ministério Público devem avaliar se houve falha no sigilo da operação ou simples previsibilidade diante da mobilização de tropas.
Por enquanto, o que se sabe é que a ação expôs novamente a complexidade do combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, onde cada avanço da polícia traz, junto, novas perguntas sobre segurança, estratégia e controle.