Passava das 20h quando alunos da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), em Barreiras, ouviram gritos vindos de uma das salas. Lá dentro, um aluno xingava a professora, enquanto apontava o dedo indicador no rosto dela. Não era a primeira vez, naquela noite de 14 de junho, que ele protagonizava um ataque, nem foi o primeiro registro de violência dentro da instituição, que acaba de completar dez anos.
A agressão contra a professora do Centro das Humanidades reacendeu o debate sobre as ocorrências de agressão na instituição. Segundo uma dezena de alunos e professores da universidade ouvidos pela reportagem na última semana, a instituição tem sido cenário de episódios de agressões físicas, verbais e sexuais, sem propor soluções contra o problema.
Depois do ataque contra a professora, alunas espalharam cartazes pela universidade. Em um deles, está a frase escrita à mão: “A Ufob deve ser um lugar seguro. Queremos trabalhar, estudar e viver”.
Desde 2016, quando entrou em funcionamento, a Ouvidoria da Ufob recebeu 28 denúncias anônimas relacionadas a assédio moral, assédio sexual e conduta ética – entre 2020 e 2021, a universidade ficou fechada devido à pandemia. Na versão de parte dos estudantes e professores, os dados estão subestimados por falta de denúncias e um clima de acolhimento pela instituição.
Das denúncias enviadas em cinco anos, quatro se referiam a violência física – três contra estudantes e uma contra professor. A universidade não se pronunciou oficialmente sobre a agressão contra a professora, há três semanas, no seu canal oficial de comunicação.
O episódio é apurado por um processo administrativo em sigilo, para “respeitar os direitos das partes envolvidas”, mas o agressor foi afastado por dois meses. Procurada, a vítima comentou a escalada da violência: “Considero que os discursos de ódio circulados livremente impulsionaram determinadas pessoas a se sentirem autorizadas a agir com violência, sobretudo, contra mulheres, negros e gays. São ataques com perfis misóginos, racistas e sexistas”.
Ela disse que foi acolhida pelos estudantes e colegas, que prestaram apoio, e também pela gestão da universidade, que “também agiu com presteza e logo tomou as medidas cabíveis, com a suspensão cautelar do estudante e abertura do processo administrativo”, disse a docente.
Com medo, ao ouvir gritos de um homem, outra professora ficou na universidade, com os alunos, até meia-noite. Naquela aula, por coincidência, os estudantes apresentaram seminários dos grupos sobre violência. Um deles foi sobre violência escolar.
Ela já conhecia a fúria do agressor que berrava ao lado: em 2017, foi vítima de agressões físicas e verbais cometidas por ele, no campus de Barreiras. O agressor continuou a intimidá-la e a professora, em março de 2022, passou a ir ao trabalho acompanhada por um segurança privado.
O outro lado: O que diz a Ufob?
A reportagem questionou a instituição sobre os casos denunciados por alunos e quais ações ela adota para conter a violência no ambiente acadêmico. A universidade reconheceu o “desafio de enfrentar o ‘medo’ relatado pelas vítimas para a realização das denúncias como fruto de uma estrutura social”.
A UFOB ainda afirmou que entende o assédio moral e a violência de gênero como pautas a serem enfrentadas, “consciente que a cultura do silêncio é realidade do Brasil”, não “exclusiva” da instituição. Segundo a pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, do Instituto Avon, 67% das universitárias brasileiras já sofreram alguma violência no ambiente acadêmico.
Fonte:Correio da Bahia